Transformação da indústria biofarmacêutica chinesa: o avanço nas terapias com anticorpos

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Sara Tolouei, PhD; Fabiana C. V. Giusti, PhD e João B. Calixto, PhD

12/1/20252 min read

A indústria biofarmacêutica chinesa vem passando por uma transformação profunda, impulsionada por políticas governamentais voltadas à inovação e à modernização dos processos de descoberta, desenvolvimento e avaliação de medicamentos. Esse ambiente favorável permitiu que empresas locais estruturassem plataformas tecnológicas de ponta para criar terapias altamente sofisticadas, como os conjugados anticorpo-fármaco (ADCs) e os anticorpos biespecíficos e multiespecíficos, considerados a nova geração de bioterapias para o tratamento de doenças complexas, especialmente o câncer.

Uma análise conduzida pelas consultoras Silvia Crescioli e Janice M. Reichert, publicada na revista Nature Reviews Drug Discovery, revela que a China superou os Estados Unidos e a Europa no desenvolvimento de terapias inovadoras baseadas em anticorpos. O país tem capitalizado o apoio governamental à inovação farmacêutica para impulsionar o lançamento de medicamentos com anticorpos aprimorados, consolidando-se como um dos principais motores do avanço global nessa área. Atualmente, o pipeline clínico mundial conta com cerca de 500 terapias com anticorpos de última geração, mais da metade desenvolvida por empresas chinesas.

O estudo, que avaliou o período de 2015 a 2024, mostra que desde 2020 o número de moléculas originadas na China que avançaram para ensaios clínicos ultrapassou o total combinado de EUA e Europa. Essa ascensão reflete o aumento expressivo dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, melhorias nas capacidades de realizar ciência básica de alta qualidade, em manufatura e maior eficiência na condução dos estudos clínicos.

Até agosto de 2025, 28 terapias com anticorpos aprimorados haviam sido aprovadas globalmente, sendo 16 biespecíficos e 12 ADCs, a maioria oriunda dos EUA e da Europa. No entanto, os produtos chineses apresentaram taxas de sucesso clínico significativamente superiores (57% contra 15%) e menor incidência de descontinuação de estudos. Essa vantagem parece estar relacionada à adoção, na China, de formatos mais inovadores, como os ADCs biespecíficos, e ao uso de tecnologias de última geração, como os inibidores de topoisomerase I, em substituição aos compostos clássicos que se ligam ao DNA.

Os dados indicam que a China está se posicionando na vanguarda da biotecnologia terapêutica, impulsionada por políticas públicas consistentes, forte investimento em P&D e um sistema regulatório mais ágil. Mantidas as tendências atuais, o país poderá liderar o mercado global de anticorpos terapêuticos nos próximos cinco anos, superando EUA e Europa, que enfrentam redução de investimentos e de quadros científicos. O estudo destaca, assim, uma mudança histórica no eixo da inovação biofarmacêutica mundial.