Terapia CAR-T direcionada a plasmócitos pode alterar o curso da esclerose múltipla progressiva
AVANÇOS CIENTÍFICOS EM FOCO
Fabiana C. V. Giusti, PhD; Sara Tolouei, PhD e João B. Calixto, PhD
11/19/20252 min read
Breve introdução
A esclerose múltipla progressiva (PMS), nas formas primária (PPMS) ou secundária (SPMS), caracteriza-se por inflamação crônica no sistema nervoso central, perda progressiva de mielina e neurodegeneração. Os tratamentos disponíveis têm impacto limitado, especialmente porque não conseguem atingir de forma eficaz os plasmócitos residentes no sistema nervoso central - células que sustentam a produção intratecal de autoanticorpos e alimentam a inflamação persistente. Terapias com células CAR-T surgem como alternativa promissora, sobretudo aquelas direcionadas ao antígeno de maturação de células B (BCMA), presente nos plasmócitos. O estudo analisado apresenta o primeiro uso em humanos de terapia CAR-T anti-BCMA em PMS, avaliando segurança, dinâmica das células CAR-T e efeitos imunológicos no sistema nervoso central.
O que os autores demonstraram no estudo
Pesquisadores Chineses e da Alemanha publicaram na revista Cell estudo pioneiro demonstrando o tratamento de 5 pacientes com PMS refratária (1 PPMS e 4 SPMS) com células CAR-T anti-BCMA em um ensaio clínico de fase 1. A terapia foi bem tolerada, registrando apenas síndrome de liberação de citocinas grau 1 e citopenias transitórias. As células CAR-T expandiram-se rapidamente no sangue e mostraram presença prolongada no líquor, com menor exaustão celular e maior persistência no sistema nervoso central.
O tratamento levou à profunda depleção de plasmócitos e plasmoblastos no sangue, medula óssea e líquor, acompanhada de redução de cadeias leves livres e, em alguns pacientes, de bandas oligoclonais - marcadores de síntese intratecal de imunoglobulinas. As análises de célula única demonstraram que os plasmócitos no líquor exibiam forte ação antigênica e provável contribuição ativa para a patogênese da PMS.
Após a eliminação desses plasmócitos pelas celulas CAR-T, observou-se normalização do compartimento de células B e importante redução de vias inflamatórias, especialmente em microglia. Imagens PET-TSPO mostraram diminuição da ativação microglial em três dos cinco pacientes. Clinicamente, todos apresentaram melhora funcional, com queda no EDSS (Escala Expandida de Estado de Incapacidade) e maior desempenho motor.
Conclusões e perspectivas do estudo
Os autores concluem que a terapia CAR-T anti-BCMA pode penetrar no sistema nervoso central, eliminar plasmócitos patogênicos intratecais e modular a neuroinflamação de forma significativa em PMS. Os resultados sugerem potencial terapêutico inédito para controlar a progressão da doença, além de superar limitações de terapias anti-CD20.
Como perspectivas, os autores destacam a necessidade de estudos com maior número de pacientes, com seguimento prolongado, para confirmar segurança, eficácia duradoura e o impacto clínico real. Também será importante compreender melhor as diferenças de comportamento das células CAR-T entre sangue, medula e líquor, e avaliar se PPMS e SPMS respondem de maneira distinta à abordagem.


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