Estudo revela que molécula produzida no microbioma intestinal melhora a inflamação intestinal e o controle da glicemia

AVANÇOS CIENTÍFICOS EM FOCO

Sara Tolouei, PhD; Fabiana C. V. Giusti, PhD e João B. Calixto, PhD

12/17/20252 min read

Introdução

O diabetes tipo 2 é um dos maiores desafios de saúde pública, afetando centenas de milhões de pessoas e frequentemente associado à obesidade e ao estilo de vida moderno. Nos últimos anos, tornou-se evidente que o microbioma intestinal exerce papel importante na regulação da inflamação, da sensibilidade à insulina e do metabolismo.

Entre os compostos produzidos pelas bactérias intestinais, destaca-se a trimetilamina (TMA), formada a partir da colina presente em alimentos como ovos, carnes e leguminosas. Embora seu derivado TMAO seja amplamente relacionado ao risco cardiovascular, o papel específico da TMA ainda era pouco compreendido.

O estudo analisado revela que a TMA atua como moduladora da resposta inflamatória ao inibir a enzima IRAK4, peça central das vias de ativação imunológica estimuladas por gorduras saturadas e componentes bacterianos. Essa ação diminui a inflamação metabólica e melhora o controle glicêmico.

Principais achados do estudo

Em camundongos alimentados com dieta rica em gordura, níveis elevados de TMA foram associados a melhor tolerância à glicose, maior sensibilidade à insulina e menor ativação de vias inflamatórias no fígado.

A suplementação de colina aumentou a produção de TMA e melhorou o metabolismo. Contudo, quando a síntese de TMA foi bloqueada por antibióticos ou pelo inibidor DMB, esses efeitos desapareceram, indicando que a TMA é o verdadeiro agente ativo.

Ao avaliar 456 quinases humanas, IRAK4 foi identificada como principal alvo da TMA. Ensaios funcionais mostraram que essa interação reduz a ativação de mediadores inflamatórios, como IL-6, TNF e NF-κB.

Em células imunológicas humanas (PBMCs), a TMA também diminuiu de forma marcante a produção de citocinas inflamatórias após estímulo com LPS.

Esses achados foram reforçados por modelos genéticos e farmacológicos: camundongos deficientes em IRAK4 e animais tratados com um inibidor de IRAK4 apresentaram melhora metabólica semelhante à induzida pela TMA.

Conclusões e perspectivas

O estudo mostra que a TMA funciona como um metabólito sinalizador do microbioma, capaz de modular diretamente vias inflamatórias por meio da inibição de IRAK4. Esse mecanismo ajuda a explicar como a microbiota influencia a inflamação de baixo grau e a resistência à insulina, abrindo novas perspectivas terapêuticas para doenças metabólicas.