Ensaio clínico de grande escala revela eficácia de nova terapia contra a malária
AVANÇOS CIENTÍFICOS EM FOCO
Sara Tolouei, PhD, Fabiana C. V. Giusti, PhD e João B. Calixto, PhD
11/20/20252 min read
Após mais de duas décadas de dependência quase exclusiva das terapias combinadas à base de artemisinina (ACTs), o combate à malária ganha novo fôlego com o desenvolvimento de um medicamento inovador. Em um amplo ensaio clínico conduzido em 12 países africanos, a nova combinação terapêutica KLU156, produzida pela Novartis, mostrou eficácia comparável, e em alguns aspectos superior, ao Coartem, o ACT mais utilizado no mundo.
A artemisinina, isolada do absinto-doce e base dos tratamentos recomendados pela Organização Mundial da Saúde desde 2001, tem enfrentado crescentes problemas de resistência do Plasmodium falciparum, especialmente por mutações no gene K13. Essa resistência compromete o primeiro “golpe” rápido das ACTs, permitindo que mais parasitas sobrevivam e aumentando o risco de falha também do medicamento parceiro, o que poderia ser devastador.
O KLU156 representa uma alternativa crucial. Sua molécula central, a ganaplacida, foi identificada após triagem de milhões de compostos e atua interferindo em processos essenciais da síntese proteica do parasita. A combinação inclui ainda a lumefantrina, já conhecida e usada no Coartem. No estudo com mais de 1.600 pacientes, a nova terapia apresentou taxa de cura de 99,2%, superior aos 96,7% observados no tratamento tradicional. Além disso, eliminou mais rapidamente parasitas portadores das mutações K13, o que sugere potencial para mitigar a disseminação da resistência.
Outro ponto promissor foi a ação mais rápida do KLU156 contra gametócitos, formas transmissíveis do parasita aos mosquitos, o que pode reduzir a propagação da doença. No entanto, a nova combinação apresentou maior incidência de vômitos, especialmente no início do estudo, embora esse efeito tenha sido atenuado com ajustes na forma de administração.
O avanço traz esperança, mas também dilemas estratégicos. Debates deverão definir se o medicamento deve ser reservado para quando os ACTs falharem ou introduzido cedo, sobretudo em regiões com alta prevalência de mutações K13. Alternar periodicamente os tratamentos também é uma opção considerada para proteger a eficácia da lumefantrina.
A Novartis pretende buscar aprovação regulatória rapidamente e disponibilizar o medicamento a baixo custo. Para especialistas, sua chegada representa uma grande esperança contra a resistência antimalárica.


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