Atividade física moderada ajuda a desacelerar o declínio cognitivo na doença de Alzheimer

AVANÇOS CIENTÍFICOS EM FOCO

Fabiana C. V. Giusti, PhD; Sara Tolouei, PhD e João B. Calixto, PhD

11/6/20252 min read

Introdução

A doença de Alzheimer (DA) é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva que afeta a memória, o pensamento e o comportamento. A demência causada pela DA resulta da morte gradual de neurônios e da acumulação anormal de proteínas no cérebro, como a beta-amiloide e a tau, dificultando a comunicação entre as células nervosas. Os sintomas costumam incluir lapsos de memória e dificuldade para realizar tarefas cotidianas, desorientação, alterações de humor e perda da autonomia. Avanços recentes em terapias e hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de atividade física, têm mostrado potencial para retardar sua progressão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O que os autores demonstraram no estudo

Estudo publicado na revista Nature Medicine por pesquisadores de Harvard revelou que mesmo pequenas quantidades de atividade física diária podem retardar significativamente o declínio cognitivo associado ao Alzheimer. A pesquisa acompanhou 296 adultos entre 50 e 90 anos, cognitivamente saudáveis no início do estudo, durante até 14 anos. Todos usaram pedômetros para registrar o número de passos diários e realizaram exames cerebrais periódicos para medir os níveis das proteínas beta-amiloide e tau, marcadores típicos da doença.

Os resultados mostraram que pessoas que caminhavam entre 3.000 e 5.000 passos por dia apresentaram um declínio cognitivo cerca de três anos mais lento, em comparação às sedentárias. Aqueles que alcançavam de 5.000 a 7.500 passos diários tiveram uma proteção ainda maior - com atraso médio de sete anos na perda de memória e funções cognitivas. Além disso, andar mais do que isso não trouxe benefícios adicionais, indicando que níveis moderados de atividade já são suficientes para obter efeitos protetores relevantes.

A pesquisa também revelou que o benefício do exercício está mais relacionado a redução da acumulação da proteína tau, associada diretamente à deterioração cognitiva, do que à proteína beta-amiloide, que aparece nas fases iniciais da doença. Entre os participantes com altos níveis de beta-amiloide, a prática regular de caminhadas reduziu o acúmulo de tau e retardou tanto o comprometimento cognitivo quanto o funcional.

Conclusões e perspectivas

Os resultados reforçam que a falta de atividade física é um importante fator de risco modificável para a DA e sugerem que mesmo pequenas mudanças no estilo de vida podem ter grande impacto. Para pessoas idosas ou sedentárias, atingir de 5.000 a 7.500 passos diários pode ser uma meta realista e eficaz para proteger o cérebro.

O estudo destaca ainda que intervenções que combinem atividade física e terapias farmacológicas anti-beta-amiloide podem potencializar os efeitos protetores. A mensagem principal, segundo os pesquisadores, é clara: cada passo conta e um estilo de vida mais ativo pode ajudar a adiar em vários anos o avanço da DA e preservar a qualidade de vida.